No contexto atual de pandemia, poderá o tipo de atenção ao tema, por parte dos média, contribuir negativamente para a saúde mental da população?

10 Outubro 2020

Nunca a saúde mental mereceu tanto destaque nos média, ou em conversas do dia-a-dia, como nos últimos meses. A pandemia de coronavírus e os desafios que lançou em termos de relacionamento humano abriu portas à necessidade de reconhecer o papel do bem-estar psicológico. Isso não significa, em todo o caso, que passou a ser mais simples discutir o assunto; as barreiras são ainda significativas, mantendo-se um pesado estigma social tanto em torno do tópico como do reconhecimento do impacto da dimensão psicológica nos muitos problemas (novos) que enfrentamos.

Discutir a saúde mental em tempos de exceção, faz com que muitos investigadores se refiram ao tema como se tratando de uma sindemia. Apesar de não ser uma palavra facilmente reconhecível, descreve uma sinergia de circunstâncias que se agravam mutuamente. Enquadrado com a pandemia de coronavírus, a sindemia pode ser entendida como o agravamento dos problemas de saúde de uma determinada população em simultâneo com uma deterioração dos contextos económicos e sociais.

O confinamento em casa, a restrição de contactos sociais, o afastamento físico, levou a que outros problemas emergissem, como a depressão e/ou a ansiedade, ressaltando aquele que era um problema latente na sociedade portuguesa, mas que fora ignorado ou, pelo menos, deixado para trás nas prioridades.

Mas quem deve, quem pode e em que contextos é necessário falar do tema?  A resposta não será, certamente, simples e directa. Haverá que promover mais discussão entre os jovens, em  contexto escolar, e entre adultos, nos espaços de trabalho ou em circunstâncias sociais. Os média terão, neste enquadramento, um papel relevante, uma vez que tanto podem funcionar como agentes activos de alteração de percepções e comportamentos de grupo como podem exacerbar ansiedades ou, em situações extremas até, amplificar comportamentos de exclusão.
Muita da incerteza que se viveu (e ainda vive) durante o período de pandemia esteve relacionada com o excesso de informação ou, em alguns casos, com falta de clareza na explicação de posicionamentos e/ou dados com leituras não coincidentes. O passar dos meses acrescentou a tudo isto um natural cansaço provocado por informação repetida. Foram, em todo o caso, também os média que deram voz a inúmeros especialistas apontando os riscos da falta de atenção e argumentando em público que falar sobre a saúde mental é falar de saúde, não havendo uma diferença ou hierarquia entre a saúde mental e a dita saúde física.

Assinalando o Dia Mundial da Saúde Mental, o Communitas, convoca-nos a todos para um debate, a acontecer em directo no dia 10 de outubro de 2020 e de forma diferida, nesta plataforma, até 17 de outubro de 2020.
A pergunta de partida é a seguinte: no contexto atual de pandemia, poderá a atenção ao tema contribuir negativamente para a saúde mental da população?

Por um lado...

– Compete aos média dar visibilidade aos problemas e dilemas sociais.

-Compete aos média dar voz aos problemas da saúde mental de forma a quebrar o estigma.

– Compete aos média oferecer exemplos de modo a facilitar a identificação da população com os problemas de foro psicológico.

– Compete aos média esclarecer e clarificar o melhor possível o problema.

Por outro...

– O excesso de atenção pode levar a sentimentos de ansiedade e medo.

– O excesso de atenção (ou o tratamento desadequado) pode contribuir, indiretamente, para as pessoas construírem estereótipos sociais.

– O excesso de atenção (ou o tratamento desadequado)  pode afastar o público do assunto, por excesso de cobertura.

– O excesso de atenção (ou o tratamento desadequado) pode levantar mais dúvidas do que as pré-existentes..

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