Miguel de Barros: a produção de conhecimento deve ser “mais envolvente”
13 February 2020
É preciso criar formas para que o conhecimento seja de livre acesso. Quem o diz é o sociólogo e investigador Miguel de Barros, numa entrevista ao Communitas onde aborda as estratégias no combate às assimetrias na produção de conhecimento e reflete sobre os desafios das lutas pela conservação da natureza e inclusão social.
Entrevista realizada por Rosa Cabecinhas. Captação e edição de som e imagem por Vanessa Cortez.
“A questão da imposição de culturas, civilizações e línguas obrigatórias e únicas levou à perda de um património enorme de saberes, de conhecimento e daquilo que poderia ser hoje não só uma maior diversidade em termos culturais, mas uma maior riqueza em termos de conhecimento das nossas sociedades”, afirma Miguel de Barros. O investigador defende que a lógica neoliberal impera sobre os modelos de governação das universidades, tornando a produção de conhecimento “mais fria, voltada para os livros e para o espaço académico e não de diálogo com outros espaços de saberes como, por exemplo, as comunidades indígenas”.
Para Miguel de Barros, é fundamental que haja uma reformulação dos mecanismos de produção de conhecimento que os torne mais envolventes. “Isso passa por colocar os centros de interpretações locais na mesma categoria que as universidades que nos acompanharam quando fazemos publicações. A universidade pode financiar, mas se essa gente não nos der informação, não nos orientar, não nos explicar, como é que vamos produzir informação?”, remata.
Nesta entrevista, o também diretor executivo da organização não-governamental Tiniguena refere que existem quatro desafios para o futuro na luta pela conservação da natureza aliada com a inclusão social: a integração das culturas e tradições locais nos processos governativos, a exploração dos espaços e recursos naturais através de métodos e práticas ecológicas, a transição geracional do conhecimento das comunidades tradicionais e a integração dos movimentos sociais nas políticas públicas. “A partir do momento em que conseguimos cruzar estes quatro eixos (…), há um outro ponto de vista de como é que é e deve ser a intervenção de cada cidadão dentro do seu território, mas também numa escala planetária”, afirma o investigador.
Licenciado em Sociologia pelo Instituto Universitário de Lisboa, Miguel de Barros trabalhou em órgãos como o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa da Guiné-Bissau e o Núcleo de Estudos Transdisciplinares de Comunicação e Consciência da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É ainda membro do Conselho para o Desenvolvimento da Investigação em Ciências Sociais em África e diretor executivo da organização não governamental Tiniguena, dedicada à preservação do meio ambiente na Guiné-Bissau. Além do prémio humanitário Pan-Africano de Excelência em Pesquisa e Impacto Social, foi eleito pela Confederação da Juventude da África Ocidental (CWAY) a personalidade mais influente do ano de 2018.
Email: miguel.m.debarros@gmail.com
Twitter: @debarros_miguel