Marcos Palácios: “essas fabricações [de informação], em primeiro lugar, têm objetivos muito claros”

16 Janeiro 2018

As fake news foram o mote para uma entrevista com Marcos Palácios. O professor da Universidade Federal da Bahia explorou o significado do termo e as implicações desta fabricação de informação falsa, expondo as razões pelas quais esta é, atualmente, uma questão preocupante.

Entrevista realizada por Luís António Santos. Captação e edição de som e imagem por Marisa Mourão.

As fake news (ou, traduzindo para português, as notícias falsas) podem ser entendidas, tal como explica Marcos Palácios, como “uma fabricação”, “uma informação falseada, falsificada, sem base na realidade ou distorcendo de uma maneira evidente e proposital uma determinada faceta da realidade com determinados propósitos, com uma intencionalidade”.

Apesar de se poder dizer que sempre existiram fabricações de informação, o docente recorda que, hoje, há um facto novo: o volume dessas fabricações nos tempos mais recentes. Além disso, a produção e circulação desse tipo de (des)informação ocorre “num ambiente de redes sociais, em que essa informação falsificada, fabricada, viraliza e se torna, algumas vezes, mais preponderante em termos de acesso do que as informações, vamos dizer entre aspas, corretas sobre um determinado facto”, sublinha Marcos Palácios.

“Evidentemente que existem vieses de todo o tipo quando se produz qualquer tipo de informação, inclusive obviamente a informação jornalística (…). Tudo isso é verdade, mas isto é diferente da fabricação do que se chama fake news nesse sentido que eu estou a usar aqui, de uma fabricação, porque essas fabricações, em primeiro lugar, têm objetivos muito claros”, esclarece o professor apontando como exemplos o caso das eleições americanas e o do Brexit.

O investigador realça também o facto de esta fabricação não ser feita por amadores, mas sim por profissionais. “Isto está sendo feito por profissionais altamente qualificados, profissionais que trabalham em outras áreas do mercado e que migram para este tipo de atividade, profissionais que trabalham em área de publicidade, de propaganda (…), que justamente estão especializados em viralizar a informação”, afirma.

Para Marcos Palácios, este cenário traz novas questões. Por um lado, traz uma nova dimensão para se pensar no domínio dos programas de literacia digital – a capacidade para identificar estas fabricações – e, por outro, coloca “a questão da responsabilidade das empresas que oferecem esse tipo de ambiente” no qual circula este tipo de (des)informação.

No final de 2017, Marcos Palácios esteve em Portugal, no III Congresso Internacional sobre Culturas – Interfaces da Lusofonia, tendo sido orador numa sessão plenária sobre literacia digital, cidadania e democracia na qual também se pronunciou sobre a temática das fake news. Marcos Palácios é professor na Universidade Federal da Bahia (Brasil) e professor catedrático visitante na Universidade da Beira Interior. Formado em Sociologia e com experiência profissional em jornalismo, tem uma carreira académica na área da Sociologia da Comunicação, tendo-se interessado pela questão da internet desde os seus primórdios. O webjornalismo, o jornalismo comparado e as novas tecnologias de comunicação são objetos das suas pesquisas.

 

Email: palacios@ufba.br

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